Marilene Silva - sem palavras ( capitulo 5-6 )

Daí meia hora lá estava o João. Entrou igreja a dentro desesperado em minha direção.

- O que está acontecendo Marilene? ? falou soltando fogo pelos olhos.

- Calma senhor, tem algo muito sério acontecendo que o pastor quer conversar com o senhor, fique calmo. ? disse dona Emília gesticulando com as mãos para que ele se acalmasse.

Nesse momento o pastor começou a reunião da tarde e na oração mais uma vez minha cunhada manifestou, só que agora o João também. Fiquei no meio dos dois e sem saber o que fazer.

Fiquei com os olhos arregalados para o pastor que logo fez o trabalho de libertação em João. Em seguida fez em Conceição, porém explicou ao meu marido o que estava acontecendo, pois o espírito imundo dizia que ganhou um trabalho feito com o coração de boi para eu morrer. Foi feito também com um fio de cabelo de João caído no seu paletó para que ele ficasse louco por ela.

Eu comecei a chorar mais ainda.

Disse claramente que havia sido feito um trabalho para destruir nosso casamento, e para me matar, mas meu marido não acreditou.

Isso me fazia chorar cada vez mais, e mais, e mais até irritar o João.

- Está vendo o que o mal está fazendo em sua família? Ele ganhou oferenda para destruir vocês. Volta para sua casa, para sua família. ? disse o pastor.

- Bom, eu acho que isso aqui é coisa séria, porque eu não sei o que aconteceu comigo aqui. E minha cunhada é uma pessoa séria, ela não ficaria assim aqui e nem falaria tanta coisa como falou. Mas eu não vou voltar para casa, porque eu não amo mais essa mulher que está aqui na minha frente. Eu amo a outra que está lá comigo. É ela que eu amo e quero ficar com ela. Vou voltar para minha casa atual, para minha verdadeira mulher que está me esperando.

João virou as costas e me deixou lá, nem olhou para trás.

Eu estava desabando de chorar e agora, estava com a dor na alma tão grande que parecia um abismo aberto dentro do meu peito.

Dediquei tantos anos da minha vida a um homem que hoje me humilha na frente das pessoas dizendo que não me ama mais.

A pergunta é:

Para onde foi esse amor? Será que o mal tem força para destruir a família de alguém? Será que um dia eu poderei ter o João de volta? Para mim isso estava muito distante da realidade.

- Olha senhora. O que o mal destruiu, Deus irá reconstruir. A senhora acredita? ? me perguntou o pastor.

- Não senhor?. ? respondi chorando copiosamente.

- Eu vou emprestar minha fé para a senhora. Irá fazer as correntes com a fé emprestada. ? disse o pastor.

- Lene, enquanto nós não vencermos não iremos parar de lutar! Nós vamos vencer isso tudo! ? disse Conceição.

- Eu quero que tudo isso acabe? ? respondi ainda chorando.

- Então a senhora vai continuar perseverando, mas agora com minha fé.

Saí daquele altar enxugando as lágrimas.

Em meio a uma fé emprestada do pastor e a determinação da minha cunhada, continuei indo as quintas feiras para lutar por minha família.

Fomos convidadas a participar das orações de quarta e domingo. Eu queria mudar de vida, queria uma libertação, a família abençoada, mas ainda não estava tendo fé suficiente.

Toda vez que eu participava das reuniões principalmente quarta e domingo, ouvia a palavra pregada e meu íntimo ia mudando. Aos poucos fui entendo sobre a fé, fui amando o Deus daquele pastor que havia fundado uma pequena igreja em uma funerária, que quando pregava passava virtude em cada palavra. Nem mesmo eu percebi, mas Deus estava me transformando.

Fui curada daquela hemorragia que estava me matando dia a dia. O meu interior começou a ter vida. O desejo de morrer já não havia mais. Meus olhos já não passavam mais tanta dor.

Eu ainda estava com meu marido na casa da amante e dizendo que estava apaixonado por ela como nunca antes, porém dentro de mim havia vida !

Meses se passaram e João nunca tocou no assunto da igreja nem no acontecido. Ele ia todos os finais de semana em casa buscar as crianças mas nem olhava em meu rosto. Eu ainda era a mulher que ele não amava.

O que ele não sabia é que eu estava me fortalecendo espiritualmente. Já estava andando com minha própria fé. Não estava mais precisando usar a fé do pastor, agora eu já usava a minha.

As mágoas já não existiam dentro do meu coração. Aos poucos fui me limpando e me fortalecendo.

Aquela tristeza inexplicável já não estava mais dentro do meu peito. No início eu queria sair de perto de mim, porque nem mesmo eu me suportava, mas agora era diferente. Eu tinha vida!

Me batizei nas águas, tive o encontro com Deus e fui batizada com o Espírito Santo. Minha vida foi transformada, porém meu marido? ainda estava nas mãos da amante.

Eu tinha que ser diferente. Diferente dela. E já era. Eu tinha o Espírito do Deus Altíssimo dentro de mim. Eu havia recebido poder para lutar contra as forças malignas.

Como sempre, a transformação começa de dentro para fora. Por dentro, eu já estava transformada. Precisava da transformação de fora.

- Vou comprar umas roupas novas.

Fui até uma loja e comprei coisas que há tempos não comprava. Renovei minhas maquiagens. Fiz um belo corte em meus cabelos. Voltei a fazer as unhas.

Minha visão havia mudado.

Eu não mais ficava desesperada pelo João. Não era mais dependente daquele homem? agora eu dependia do próprio Deus.

Aprendi que eu tinha valor.

- SIM, EU TENHO VALOR!






Queridas leitoras. Eu não posso deixar de fazer uma pergunta a vocês?

Você se dá valor ou ainda pensa que é ninguém?

Você se posiciona como filha de Deus ou ainda se deixa levar por uma depressão?



Descobri que Deus me ama. Descobri que sou importante para ele. Se o João não me quer, não sou eu quem estou perdendo e sim ele, porque agora sou uma nova mulher. Uma mulher de Deus.

Comecei a prosperar na vida financeira. Sou pedagoga e na época trabalhava como orientadora educacional. Resolvi prestar concurso e para minha alegria, eu passei.

Comecei a dar aulas em um colégio do município e a tarde em um colégio particular.

Na escola, todos viram minha mudança e comentavam como eu estava bem.

Eu já não dependia do dinheiro do João. Tinha minha própria renda. Toda vez que ele buscava as crianças nos finais de semana para passear, encontrava uma Marilene muito bem arrumada, perfumada e com sorriso nos lábios.

Eu fazia questão que ele percebesse que eu não sentia mais sua falta, apesar de estar toda quinta feira fazendo corrente por ele e lutando com todas minhas forças para a restauração do meu casamento.

João começou perceber meu crescimento.

- Lene, você vai sair? Está toda arrumada. O que está acontecendo?

- Sinto muito, mas você não tem mais o direito de me fazer essa pergunta.

Ele se assustava com minha resposta. Ele não via mais aquela mulher necessitada dele, mas sim uma mulher segura, que sabia o que queria da vida, que deixou de depender dele para ser feliz.

Ele ia embora com as crianças olhando para trás. Diferente de quando saiu de casa e nem olhou para mim de volta.

Muitas vezes depois que ele saía, eu voltava para meu quarto, tirava a roupa e o sapato de salto e chorava aos pés de Jesus. Clamando pela mudança do João.

Eu fazia a comida que ele mais gostava. Deixava exalar o aroma pela casa toda.

- Lene, você está aí? ? dizia curioso em me ver.

- Oi João, entra. Fica a vontade. As crianças já estão se arrumando. ? sempre respondia com um imenso sorriso.

- Você fez o empadão de camarão que eu tanto gosto? ? esfregava uma mão na outra como criança desejosa de algo.

- Ah sim? fiz? as crianças gostam ? está pronto, acabei de desligar o forno.

- Meu Deus, o cheiro está muito bom, está dando água na boca. ? disse quase entrando na cozinha para comer um pedaço.

Sutilmente e sem demostrar que eu queria muito que ele ficasse ?

- Quer um pedacinho? ? falava com ele, porém continuava fitando o empadão.

- Claro que quero!

Eu preparava uma mesa maravilhosa para que ele e as crianças comessem o empadão de camarão.

Eu percebia que ele queria ficar ali, sentado mais tempo junto conosco àquela mesa, mas em nenhum momento eu demostrava que esse também era o meu desejo.

Ele pensava que eu estava conformada com a situação e já não o queria mais. Via que algo diferente havia acontecido comigo, mas não sabia o quê.

Passei a trata-lo muito bem e com respeito, sempre com sorriso nos lábios e muito bem arrumada. Aliás, quando João vinha buscar as crianças é que eu mais me arrumava, fazia questão de ficar linda? muito linda.

João começou a me ver como outra mulher, com outros olhos. Não mais como aquela mulher triste, sem graça que havia perdido a mãe e que estava envolvida com aquela morte. Que não conseguia sair daquele buraco negro que tinha entrado.

Ele não me via mais como fraca e deprimida, porque eu mesma não me via mais assim.

Agora eu era forte e decidida. Eu acreditava em mim! Sim, eu acreditava que venceria!

Passamos para as pessoas aquilo que pensamos ser.

E eu havia me descoberto uma mulher forte.

João começou a fazer comparações entre a esposa no papel e a ?esposa? atual.

No outro final de semana, tive uma surpresa.

- Mãe, o papai está descarregando um monte de sacolas do porta malas. Acho que ele fez compras no mercado. ? disse Ana Martha.

Como sempre, eu estava arrumada.

- O que está fazendo João?- perguntei com os olhos arregalados.

- Vamos fazer um belo churrasco aqui com as crianças!

- Como assim churrasco? Você não avisou?

- Eu não vou sair com as crianças. Vou ficar aqui com eles.

Respirei fundo e mantive a classe.

Seria mesmo justo eu ter que cozinhar no sábado para ele? Ficar lavando louça enquanto a outra ficava com o resto da semana?

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