Havia uma música
Havia uma música.
Ela tocava sempre que ele estava por perto, baixinha no começo, um sussurro de algo novo. Com o tempo, foi crescendo, tomando espaço nos meus dias, se misturando ao som da minha própria respiração. Era uma melodia que eu queria ouvir pra sempre.
Mas a música morreu.
No início, foram só notas desafinadas. Pequenos ruídos que eu ignorei, achando que era só um erro passageiro. Um descompasso. Mas logo os acordes começaram a se embaralhar, e o que antes era harmonia virou barulho. Eu continuei tentando ouvir, tentando lembrar como era no começo, mas já não fazia sentido.
Eu devia ter desligado o rádio.
Mas a verdade é que eu me tornei dependente do som. Precisei dele como quem precisa de ar, mesmo quando o ar estava intoxicado. Me agarrei ao pouco que restava da melodia, ao eco de um amor que nunca foi amor de verdade.
E quando ele se foi, não foi só ele que sumiu. O silêncio veio junto, e o silêncio era insuportável.
Ele deixou um buraco no peito, um espaço oco que parece gritar sempre que fico sozinha. O pior é que eu sabia. Eu sabia que ele não ia ficar, que esse dia chegaria, que a ausência viria com força, como um apagão repentino no meio de uma canção.
Mas saber não significa estar pronta.
E agora estou aqui, tentando encontrar outra música pra tocar no lugar. Mas nenhuma encaixa. Nenhuma parece certa. Porque essa ausência, esse vazio que ele deixou, ainda ressoa como o eco de uma nota que nunca terminou de tocar.
Talvez, um dia, eu pare de escutar.
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