Diário de mel2505

Cachorro. Vale a pena ler cara.

Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2012.

Cachorro. Vale a pena ler cara. Público
Me desculpa por não ter cuidado direito de ti, pequeno. Eu achava que algumas coisas tão banais, eram mais importantes. Como a gente se engana, não é? Desculpa por ter cometido um erro tão grande e imperdoável. Eu fui tão idiota, em valorizar depois de perder. Me desculpa? Eu sinto muito, de coração. Mas eu ainda assim, sei que se eu simplesmente fosse brincar com você, como sempre, você esqueceria de tudo, e me animaria, como você sempre fez. Me desculpa por não ter valorizado isso enquanto eu tive também, tá? Lembra daquele natal que eu passei sozinha? Eu tinha 9 anos, e meus pais tinham acabado de se divorciar, e eu tinha acabado de te ganhar. Éramos só nós dois, e eu chorava. Meu pai preferiu minha madrasta a mim (apesar de eu já ter me acostumado com isso, tinha sido a primeira vez que ele tinha feito isso). Você estava lá pra me ajudar quando eu precisei. Você lambeu minhas lágrimas, e dormiu do meu lado sempre que eu chorei até cair no sono. Na páscoa, lá estávamos nós, no mesmo ano, sozinhos em casa de novo. Você sempre esteve lá quando eu precisei, sim, eu sinto que devo repetir isso. De quantas pessoas você pode falar isso, e ser sincero? Quantas pessoas realmente valem a pena conhecer, e são suas amigas de verdade? Eu acho que nunca enxerguei o quanto você me ajudou. Quando meus pais se divorciaram, não me restou mais nada. Eu acho que já era madura pra ter oito ou nove anos, sinceramente. Só você sabia que eu não chorava por ter ficado sozinha naquelas datas que costumávamos comemorar, mas eu chorava por que meu pai era tudo que tinha me restado, e eu era simplesmente a segunda opção dele. Então, me sobrou você. Ainda hoje torço pra que você esteja bem, com alguém que saiba como cuidar de você, do jeito que eu não soube. De novo, desculpa. Você foi simplesmente roubado de mim, não é? (Literalmente). Quando te roubaram, fiquei um mês sem chorar. Eu sabia que você tinha sumido de algum modo, mas queria evitar isso, queria mentir pra mim mesma. A verdade dói, sempre doeu. Depois meu pai, simplesmente chegou e falou algo do tipo "Sua sem coração, não notou que seu cachorro não está mais aí, que roubaram ele?". Sim, eu notei. Nessa hora, eu sorri, e disse "Nossa, sério?" Fingi olhar pela janela pra ver se era verdade, mas eu sabia que era. Mesmo assim, naquela hora te procurei. Procurei como nunca. Olhei por todos lados do quintal, e sai de pijama pelas ruas de Curitiba te procurando. Depois, como se tudo estivesse ótimo, voltei pra casa, segui meu dia. A noite, eu chorei. Chorei mais do que no natal e na páscoa, juro juradinho que chorei. Não sei como foi possível, mas chorei seis horas sem parar. Não melhorou a situação meu pai me ver chorando e começar a berrar "para de chorar, que coisa infantil" e brigar comigo, me xingar de tudo. Eu simplesmente pensei "Ele não vê que eu acabei de perder tudo que eu tinha?" Me senti a pessoa mais sem chão do mundo. Cachorro, obrigada por estar lá enquanto eu sofria bullying, e fiquei anoréxica por causa de comentários idiotas e banais que não mudariam minha vida se eu não ligasse. Obrigada por estar lá quando eu pensei em me suicidar, te olhei, e pensei "tenho que ficar pra cuidar de ti." Ninguém acredita, e alguns até riem, quando eu digo que meu cachorro foi tudo e nada para mim, e que me salvou do suicídio, mas acho que lendo esse texto, alguns entenderiam. Ainda passo todos os natais de lá pra frente sozinha, e páscoas também. Não por querer, toda família simplesmente esquece da minha existência. Minha mãe sequer me deixa sair com ela, e leva minha irmã, e depois ela ainda reclama que é a "mal amada" da história. É, ela é né? Claro. Bom, nesses dias, eu sempre sinto sua falta. Eu sempre vou sentir. Eu me arrependo por chorar antes te tendo ao meu lado, e agora sinto que tenho reais motivos pra estar assim. Obrigado por ter mudado minha vida, e salvado ela. Sinceramente, sem você, eu já estaria morta. Essa é uma frase que eu costumo falar para alguém que pergunta sobre minha vida, mas ninguém entende. São poucos os que eu me explico. Tem que ser pra alguém que realmente mereça a história, e tenha paciência para ouvir/ler ela. Agora eu sou sustentada por memórias, sabia? Não tendo mais você, acho que é o que me resta. Não posso me prender a amigos que sei que não estarão comigo como dizem que vão. Me prendo a memórias por que muitas delas não voltam, muitas pessoas mudaram, mas as memórias não. A minha memória mais dolorida, é aquela onde me vejo dizendo "Pai, quero esse cachorrinho aqui ó" -"Mas por que esse?Ele é estranho." -"Por isso eu quero ele. Quando eu olhei pra trás, ele latiu, abanou o rabo e fez uma pose sexy que me seduziu, quero ele." -"Tá bom, vai ser esse. Qual o nome?" - "Fred, por que combina com fedorento, é engraçado." -"Ok." Eu não sei se você se lembra disso, cachorro, mas eu lembro. Dói. Não sei se você está vivo, mas sei que onde quer que você esteja, está em meu coração, e eu to contigo pequeno. Sempre e para sempre, lembra? Aquela promessa que eu te fiz naquele natal, e te abracei forte. Ainda tenho sua coleira, seus potes de ração, tudo que te pertencia. Não ouso jogar nada daquilo fora, por que é o que me resta de ti, não é? Talvez eu doe, para algum cachorro que precise de amor. Como dizem, a vida segue. Seria maldade faltar pra um enquanto eu tenho e só não dou por que sou apegada aquilo. Sinto que é hora de seguir em frente, mas jamais ousaria dizer o resto dessa frase clichê."E esquecer." Eu nunca vou te esquecer. Tá no coração e na alma, e sei que você olha por mim, pequeno. Te amo. Com amor, sua dona.


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Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2012 �s 16:29
"Agora sou guiada pelo amor, e sinto que isso é culpa sua. Obrigada. Sinto muito não conseguir mais escrever, mas as lágrimas me venceram."

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