Diário de lisemiep

Qual vida?

Sábado, 28 de Junho de 2025.

Qual vida? Público
Querido diário,

desconheço a evidência do meu lugar no mundo. Digo, há espaço para festas barulhentas, mas com ausência de almas pulsantes. Toxinas líquidas escorrem por gargantas vazias. O prazer sexual é visto como libertação dos desejos; sem consciência, sem amor, sem vida. Ignorância permeada pela falta de humanidade nos corações. A velocidade das informações e dos pensamentos exclui a oportunidade de perceber e sentir as maravilhas que o mundo ainda tem a oferecer.

Mas quer saber da vida, do lugar que sonho para mim? Ele é mágico. Frio - mas também há calor. Não há barulhos, nem nenhuma forma de vida a passar apressadamente. Há dias com céus cinzas (os meus preferidos), e dias ensolarados que trazem o gosto de planta molhada. Animais passeiam livremente por um mundo que, agora, os abraça. Há flores brancas, vermelhas, amarelas, azuis... A minha preferida? As brancas. Representam, para mim, paz, silêncio, temperança, esperança, solidão e amor. Há grama verde, molhada, com cheiro de amor. Dentro de uma casa, chá de camomila é preparado, junto com alguns pães doces e salgados. Há bolo de milho e cenoura, os meus favoritos.

Após o preparo, o tempo fecha. A cor cinza, meio escura, toma conta de todo o céu. Logo, a chuva cai lentamente, como quem diz: "estou sem pressa para ser sentida, vivida e amada." O café da tarde é posto à mesa. Com um chá quente e um pedaço de bolo de milho nas mãos, sento-me em minha poltrona, de frente para os vidros transparentes da casa. A chuva os molha, mas ainda é possível ver, nitidamente, toda a paisagem que antes descrevi.

Mesmo com a casa fechada, para que a chuva não molhe nada, respiro e sinto como se estivesse deitada na grama, a olhar para o céu, a sentir os pingos tocarem meu rosto. Pingos de chuva molham-me completamente, em cada parte do corpo, acendendo a vida dentro de mim. Minha alma dança ao som do silêncio, da vida, reconhecendo-se como parte dela.

Levanto-me da poltrona e, de olhos fechados, movo os braços para cima, para baixo, para os lados. Meus pés deslizam pelo chão de madeira, como se reconhecessem aquele piso. Meu corpo já não conduz, apenas imita os movimentos da minha alma. Minha mente e meu coração viajam pelo céu cinza, vislumbrando um mundo extraordinário. A dor, o medo, a angústia, ainda existem. Não são negados, são abraçados. E, no meio de tudo isso, há um espaço imenso para a felicidade, para o amor - forças que transformam qualquer partícula de vida existente neste mundo.

E, por fim, diante de tudo isso, talvez esse lugar que imagino exista apenas em mim - dentro do que há de mais sagrado e puro em minha alma. Ou talvez... existam espaços, momentos, em que eu possa visitá-lo...


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