Não é sobre fingir que nada aconteceu
Não. Nunca foi sobre fingir que nada aconteceu.
Eu nunca pedi isso. Não sou feita de negação, nem de mentiras doces. Eu sou feita de verdades. Da dor que enfrento, do amor que entrego, da força que me esmaga, mas não me faz desistir.
O que eu queria... era diferente. Era que você olhasse pra bagunça, toda ela, e dissesse comigo: "Vamos consertar juntas!".
Eu não precisava de perfeição. Nunca precisei de promessas vazias, muito menos de discursos bonitos no meio do caos. Eu precisava de presença. De compromisso com o sentimento. De você me olhando com coragem e dizendo: "Eu vou ficar, mesmo doendo. Mesmo difícil. Porque você vale isso." Mas não foi isso que aconteceu.
Enquanto eu suava para segurar o teto desabando, você pensava se queria entrar ou sair da casa.
Enquanto eu me encolhia em culpa por qualquer passo fora do lugar, você escondia os teus.
Enquanto eu reprimia meus sentimentos antigos para te preservar, você beijava o passado e se calava.
E depois, ainda vinha me cobrar o que você mesma não teve coragem de ser.
Me viu com medo. Com angústia. Com culpa. E mesmo assim, me lançou palavras duras, frias, injustas. Me deixou acreditar que o erro era só meu. Me fez carregar sozinha o peso de uma relação feita a dois.
Me feriu com ausência, com acusações, com o peso do que nunca te pertenceu. Me deixou sozinha com os escombros e depois me pediu amor como se nada tivesse acontecido. Mas aconteceu. E doeu.
E mesmo com toda essa dor, eu ainda fiquei. Fiquei em meio ao caos, à angústia, à confusão, ao medo, a insegurança... Fiquei mesmo doente, mesmo fraca emocionalmente, mesmo sozinha. Fiquei porque eu sou feita de entrega, e por você, eu teria enfrentado o mundo - se você tivesse ficado comigo também.
Mas não ficou. Quis a família no papel, não no esforço diário. Quis o "pra sempre", mas não o agora.
E sabe o que mais dói? Os sonhos. A família que você dizia querer construir comigo. Os filhos que você imaginava ao meu lado, Sophia, Miguel. Quantas vezes eu fechei os olhos e vi isso acontecendo? Quantas vezes eu chorei emocionada ao te ouvir falando de "nossos filhos", da casa com jardim, da nossa vida simples, mas cheia de amor? Sonhei com a gente escolhendo nomes, rindo, brigando por coisas bobas, se beijando depois no meio da sala. Sonhei porque acreditei em cada palavra que você disse. Porque meu coração construiu esse futuro com você em cada detalhe.
Mas você desistiu antes mesmo de tentar.
E, talvez, como diria Anne Shirley-Cuthbert:
"Minha vida é um perfeito cemitério de esperanças enterradas." Mas como poderei eu, mentir? Ainda há esperança no meio da desesperança. Ainda há amor em meio à dor. Ainda há querer em meio ao caos.
Mesmo assim, o amor precisa de mãos, e agora, eu entendo. Você quer o amor, mas não o trabalho que ele exige. Quer os sonhos, mas não os tijolos. Quer os planos, mas não o compromisso com cada gesto que constrói.
E eu? Cansei. Cansei de correr atrás de quem assiste meu esforço como espectador. Cansei de explicar coisas que o amor deveria saber sozinho. Cansei de me justificar por sentimentos que não machucam - só existem. Cansei de ouvir "eu te amo" sem ações que sustentam essa palavra.
Porque amor, pra mim, é decisão. É bagunça e arrumação. É tropeço e conserto. É dois. Sempre dois.
E se eu estou me afastando agora, não é porque eu não amo. É porque me amo também. E o que eu dou... inteiro, verdadeiro, imenso, só pode ser recebido por quem saiba também dar.
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