Um cachorro chamado Milton

Nomes de cachorro são legais e muito variados, sardinha, whisky, baleia, rex, rei arthur, não existem regras para se batizar um cachorro, por isso tem cachorro que tem nome legal e tem cachorro que tem apenas um nome, um dia conheci um cachorro chamado milton, batizado assim por causa de um tio do seu dono, milton sempre foi um cachorro confuso, assustado, medroso e sem autoconfiança nenhuma, mas, era um bom cachorro, amigo, obediente, prestativo o verdadeiro melhor amigo do homem, que nesse caso era pra ser o seu proprietário Mundinho. O que aconteceu na vida do nosso ANTI-HERÓI no entanto é que pela sua passividade e falta de coragem ele passou a ser o cachorro de todos, recebia ordens de todos, servia a todos, e até apanhava de todos. Cansado dessa vida de ter que obedecer a qualquer um que passava por seu caminho o nosso cachorro manso começou a virar um cachorro de rua, e sua casa apenas um abrigo para as horas de sono e local das suas refeições, não se sentia mais em casa, e as pessoas que moravam ali também não enxergavam ele como parte da casa. Vivendo grande parte dos seus dias nas ruas ele entendeu que a rua também não era o seu lugar, na rua lhe jogavam pedras, lhe jogavam água, riam dele por ser desengonçado, tomava uma carreira por dia, e assim foi o tempo passando e ele não se encontrava, não gostava de casa, não gostava das ruas, não gostava dele, não gostava de viver, como era um cachorro nunca ouvira falar de Deus ou se ouviu não compreendeu, já que seu vocabulário se limitava a "Milton, entra, passa, parado, auto, pra dentro, pra fora",... , como era triste ser milton, que foi envelhecendo, ficando cada vez mais deitado no seu canto de olhos fechados, espantando as moscas, as vezes comendo umas moscas, esperando alguma coisa que não sabia o que era, mas a hora nunca chegava, seus dias iam ficando cada vez mais longos, seu dono já havia partido e a situação de milton ficava cada dia pior, não tinha casa, não tinha família, não tinha comida, agora ele era definitivamente um cão de rua, velho, sem forças e sem coragem pra nada, se mudou para baixo de uma arvore onde pelo menos tinha sombra para os dias de sol forte, na chuva ficava ali mesmo, parado se molhando deitado no mesmo lugar onde depois iria se secar, comia do lixo da vizinhança, sempre virava as latas fazia barulho e saia correndo com medo, restos de comida na boca, as vezes conseguia comer, outras apanhava e saia triste, dolorido, envergonhado e choramingando, voltava pra sua arvore e continuava esperando, esperando e esperando, um dia chegou, ali parado olhos fechados milton dormiu e acordou em um outro lugar, disposto, enérgico, rejuvenescido e agora compreendia quando vinham conversar com ele e falavam em Deus, seu vocabulário agora era vasto, entendia e compreendia tudo, ali ele tinha amor, carinho, companheirismo de todos os que encontrava e ali milton soube depois de algum tempo que teria que retornar para o lugar de onde viera, em um novo corpo, um novo formato, agora seria um homem, se chamaria Milton mais uma vez, e levaria a mesma vida de cachorro pra ver se dessa vez apendia a necessidade de viver, crescer, aprender e lutar, perto de 50 anos depois, acovardado, confuso, assustado ele mais uma vez adormeceu embaixo daquela arvore e acordou em outro lugar, enérgico, rejuvenescido, mas ciente de que levara a mesma vida de cachorro, nada aprendeu, não cresceu, não evoluiu, nada mudou, sabia que teria que voltar, mas dessa vez estava disposto a fazer uma exigência, não queria mais ser Milton, ele já voltou, a vida continua sendo de cachorro e seu nome continua sendo Milton.

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