Contemplar o tempo é a arte de sentir os seus efeitos

Mais de um ano e meio se passou e, durante esse tempo, muita coisa aconteceu. Estou mais liberto, embora mais preso também. Dezenas, talvez centenas, de coisas moldaram-me e aqui estou: mais sobrevivendo que vivendo.
No final do ano passado eu prestei vestibular para o IF e passei. Neste ano, abandonei.
É improvável que eu consiga descrever meus motivos, mas já vinha me sentindo mal há algum tempo e senti que sem os meus amigos eu não conseguiria. O que, infelizmente, foi um motivo fútil.
O Breno se afastou de mim por motivos que até hoje eu não entendo (embora ainda confabule de vez em quando), só a Emily diz que compreende. Mas a própria Emily também se afastou. Ela é amiga da Amanda agora e as duas conseguem passar melhor do que ninguém a imagem de que me odeiam. A Emily não me apoia em nada mais, não compartilha nada comigo e faz eu me sentir um intruso na vida dela quando pergunto qualquer coisa. Ela sempre nega ir aos lugares comigo e responde com grosseria tudo o que eu falo. Às vezes a gente senta perto e nem se fala. Decidi me calar porque cansei de me sentir humilhado com as cortadas dela. Ela reclama quando eu faço comentários negativos sobre as coisas, mas ela própria faz isso. Logo percebi que o problema era eu e não o pessimismo. Ela justifica tudo dizendo que eu já fui muito ruim e magoei muito ela, mas sei lá.
O Matheus estava com os amigos que ele fez no 3° Festival (No caso era só a Melyssa, mas ela apresentou os amigos dela pra ele) e eles estavam juntos, mas ele mudou pro 7 e se infiltrou no bonde da Gloria.
Eu adorei reencontrar a Gloria esse ano, ela parecia legal no teatro e eu acho que sempre quis ser amigo dela. Os amigos dela também são legais. Tem o Isaac, ele é europeu (e isso é muito engraçado) e hilário, é muito bom conversar com ele. E tem o Gustavo, que seria muito bom se não fosse tão... "sei lá", às vezes. A Idian, que estava estudando comigo no IF no começo do ano, era amiga deles na Evandro, e depois que eu conheci eles, aquela escola ficou muito mais atraente e, algumas vezes, eu senti vontade de ter estudado lá só pra conhecer eles antes (não me orgulho disso).
O Gustavo, na verdade, merece destaque.Mais do que amigo ele tem sido "outra coisa".
A gente ficou pela primeira vez em maio. Convidei ele pra uns parlamentos de fachada (o parlamento jovem, na real), mas foi uma merda. O Breno tinha acabado de sair da Alfredo pra ir pra Odete (no turno da noite, como se ele tivesse essa capacidade!) e eu estava meio fragilizado. Aquilo nem pode ser considerado uma ficada. Mas, sei lá, ele "terminou" comigo e voltou a dar em cima umas semanas depois, aí eu aceitei. Além de eu estar carente naquela época, é sempre bom pra nossa imagem dizer que ficamos com alguém que nem ele, que todo mundo acha bonito. Eu nem acho ele essas coisas de rosto ou corpo (embora ele possua uma aparência notável), mas por dentro ele é muito lindo às vezes.
Amanhã, se eu não me engano, a gente faz três meses. É ridículo ficar contando data como se a gente fosse um casalzinho, mas é mais pra saber quanto tempo (em expectativa) a gente tem pela frente. Digo isso porque ele já me magoou demais durante esses três meses. O cara beira a estupidez muitas vezes. Ele uma vez me pediu pra depositar sim sentimentos nele, mas não tem capacidade nem de cuidar do que pede. Meio que decidi matar meus sentimentos por ele, ele não vale o mínimo esforço às vezes. Eu acho que vou dizer isso a ele.
As coisas estão meio confusas porque as nossas mães estão frequentando o mesmo terreiro. Dois dias atrás uma pombagira contou sobre a gente pra elas, agora não sei direito como tá tudo.
Hoje ele foi dormir se fingindo de triste por umas coisas que eu disse, e ele sempre faz isso. A gente nem tem nada ainda e ele já quebrou uma promessa que me fez, por livre e espontânea vontade.
Me sinto uma garotinha clichê vivendo tudo isso, e justamente por esse motivo não vou deixar ele tirar nada de bom de mim se tudo o que ele me traz é desgosto.
Muito mais coisa já aconteceu entre a gente, mas tudo bem, ele não merece tanto destaque assim. Nem aqui, nem em lugar nenhum.
Hoje eu descobri que a Evely tentou se matar. Fiquei confuso porque os boatos estavam rolando mesmo, só não sabia que era ela, mas a Aline falou na sala da Amanda e da Anja.
Fiquei muito triste porque a gente tinha combinado de fazer curso de farmácia juntos ano que vem, ela estava ficando com vários meninos, fazendo várias amizades novas... Ela não aparentava estar assim. Ela tomou remédios e um funcionário da prefeitura encontrou ela na pracinha do Japão, ainda bem. Eu vou lá ver ela com a Emily amanhã.
Eu voltei pro teatro e já tô cheio de coisas pra apresentar. Tem uma performance e duas peças, fora a do trote que é depois de amanhã. Cansativo, mas gratificante.
Falei com a minha mãe e vou ao psicologo pois acho que estou depressivo. Tem sido horrível viver ultimamente e todos ao meu redor têm me feito mal. A única pessoa que demonstra querer me fazer bem é o Gustavo, mas ele também me quebra um pouco todo dia. Não é culpa dele e eu tento perdoar sempre, embora acho que não devesse.
Eu escreveria mais, mas tenho sono e não tenho disposição. Combinação perfeita.
Até quando o tempo, a privacidade, e a vontade permitirem.

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